segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

UM PRESIDENTE MIMADO -SEGUNDA PARTE



Da altitude do poder, é possível esculhambar repórteres que fazem perguntas indesejáveis. Também é possível reescrever a história. No discurso de despedida do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social - criado em 2003, e que se tornou muito importante por institucionalizar o bate-papo presidencial em horário de expediente -, Lula se emocionou.



Disse que foi vítima de uma tentativa de golpe em 2005 (o ano do mensalão) e agradeceu aos conselheiros que permaneceram a seu lado naquele momento difícil. Deve ser mesmo comovente imaginar que, em menos de um mês, não haverá mais plateias simpáticas como essa para ajudá-lo a acreditar no que ele quiser.



Da altitude do poder, é possível esculhambar repórteres que fazem perguntas indesejáveis Em 2003, recém-empossado, Lula recebeu no Palácio da Alvorada a visita dos humoristas do Casseta & planeta, para uma sessão do primeiro filme do grupo. Bussunda, que era fã de Lula, se fixou numa cena: o presidente estava numa cadeira de rodas, por causa de uma torção no pé.
Enquanto era empurrado pelos corredores palacianos, um ministro caminhava a seu lado segurando um cinzeiro, para que o chefe batesse a cinza do charuto que fumava.




O humorista achou que havia algo errado com a conquista do palácio pelo povo. Pareceu-lhe que o povo era quem tinha sido conquistado pelo palácio.
Lula foi conquistado pelo poder. E este lhe foi mesmo cativante
. Foram oito anos vendo o Banco Central governar, surfando na conjuntura econômica generosa e distribuindo bolsas, repetindo bordões fáceis como PAC e pré-sal, engordando o mito do filho do Brasil. Nem convencer o povo de que Dilma é Lula deu trabalho - e aí, realmente, não se pode querer outra vida. Este 1º de janeiro vai ser mesmo difícil para o operário que chegou lá, e enfrentará seu maior desafio: sair de lá.



Essa outra vida promete ser estranha. Certas delícias vão desaparecer, como ignorar por oito anos a segurança pública e poder declarar, diante da ofensiva da polícia carioca contra o tráfico, que "ocupamos o Morro do Alemão". Mas nem tudo está perdido. Talvez a máquina de arrecadação do PT lhe consiga alguém para segurar seu cinzeiro. E não há de faltar convite para um passeio no AeroDilma.



GUILHERME FIÚZA

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