quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Tintin no País dos Sovietes




Não sei se vocês sabem, mas em dezembro deve sair o novo filme do Spielberg baseado nas "Aventuras do Tintin". Não sei se o filme é bom, temo que não; os quadrinhos originais são ótimos.

Tudo o que sei sobre a América Latina aprendi lendo Tintin. Para quem não leu, a história em quadrinhos mostra um continente no qual ditadores se revezam no poder através de revoluções ou eleições sem que nada mude, indígenas primitivos andam sempre alcoolizados ou brigando entre si, e a pobreza e a miséria espiritual é sempre a mesma, não importando o governo que esteja no poder.

Tintin anda sempre armado e adora suas armas. Não sei quais eram as leis de porte de arma na Bélgica entre os anos 30 e 50, mas não há um episódio em que Tintim não esteja ao menos em uma cena com uma pistola na mão, enfrentando bandidos. E isto em um livro para crianças.


Tintin é de direita? Hergé, autor dos quadrinhos, foi até acusado de colaborador nazista. Exagero. Embora tenha permanecido na Bélgica durante a ocupação, a verdade é que ele não é nem racista nem antisemita nas obras. Se "Tintin na África" foi acusado de racista, bem como otros livros mostrando indígenas sul-americanos, a verdade é que ele mostra tais povos de forma positiva: talvez simplórios, mas de bom coração.

Aliás, ao contrário do que poderia parecer, com o tempo o autor foi ficando cada vez mais politicamente correto, chegando a modificar versões anteriores de livros para que ficassem mais adequados aos novos tempos. Existe uma interessante página sobre isso comparando as imagens das diversas edições, que pode ser vista aqui (em francês).

A primeira história de Tintin, e a única que jamais foi redesenhada ou mesmo colorizada, foi "Tintin no País dos Sovietes", desmascarando a União Soviética. Se em termos de arte e mesmo de história é bem mais primário do que os outros livros posteriores, não deixa de ser um interessante relato da época. Pode ser facilmente encontrado em pdf online, assim como os outros livros.

Os progressistas, no entanto, jamais perdoaram Hergé por ser anticomunista na juventude. Mesmo um jornalista brasileiro em texto recente quando da publicação no Brasil em 2009, acusou "Tintin no País dos Sovietes" de "
expor um preconceito primário contra o regime comunista". Preconceito? Sim, "preconceito" contra a fome massiva, a exploração, as execuções em massa, etc...

Leiam Tintin, ou dêem a ler para seus filhos (ainda que hoje eles estarão provavelmente mais interessados em videogames). É instrutivo.

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