terça-feira, 27 de dezembro de 2011

REFLEXÕES SOBRE A CIÊNCIA E A FÉ-PAULO GUEDES


Instabilidade política e guerras religiosas,
situações trágicas no século XVII.

Em nome de dogmas e crenças, matavam-se católicos e protestantes. Descartes pôs-se em busca de certezas que os humanos pudessem compartilhar, independentemente de suas religiões.



Foi esse o ponto de partida de sua filosofia, e sua exigência de que a ciência fosse baseada na matemática como único caminho garantido para a certeza. Essa busca de certezas científicas encontrou finalmente sua consumação suprema nas 'leis da natureza' associadas à obra de Newton, que permaneceu como o modelo para a física durante três séculos", reflete Ilya Prigogine, Prêmio Nobel de Química (1977), em
"O fim das certezas: tempo, caos e as leis da natureza" (1996).


"Uma crença religiosa difere de uma teoria
científica alegando verdades eternas, ao passo que a ciência é sempre experimental... Não é de surpreender, portanto, que a doutrina cartesiana tenha aberto na França do século XVIII o caminho para o materialismo puro... Quando Napoleão observou que o belo trabalho de Laplace sobre a mecânica celeste não mencionava Deus, o astrônomo replicou:
'Majestade, não tenho necessidade dessa hipótese'", relata Bertrand Russell, filósofo, matemático e Prêmio Nobel de Literatura (1950), em "Religião e ciência" (1935).


Foi sangrento o mundo da fé. A fúria sagrada dos cruzados. O aço de Toledo nas espadas de Cortez e Pizarro. As fogueiras da Inquisição. Os 100 anos de guerras religiosas
após a reforma protestante.


Mas nada que se comparasse em escala
às carnificinas da era da razão. Dos ideais iluministas ao terror jacobino e ao horror das guerras napoleônicas. Da germânica "vontade de poder" às duas grandes guerras mundiais.
Da utopia socialista ao terror bolchevique.
A civilização foi empurrada à beira da extinção pelos choques de ideologias materialistas no século XX.



Foi, portanto, ainda mais sangrento
o mundo sem fé.
"As novas crenças do comunismo e do fascismo foram herdeiras do fanatismo teológico", diagnosticava Russell.

Antes que se perca o mundo mais uma vez
entre obsoletas concepções antagônicas perante a grande crise contemporânea, celebremos a tolerância, a confraternização e a solidariedade, Que são o verdadeiro espírito de Natal.

GUEDES, Paulo. Reflexões sobre a ciência e a fé. O Globo, Rio de Janeiro.
26 dez. 2011. Opinião. Caderno 1, p. 7.

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