domingo, 15 de julho de 2012

Saudades da Guerra Fria




MISTER X




Hoje me veio uma saudade dos tempos da Guerra Fria… (Peguei mais o finzinho, mas deu para ter uma boa ideia do período.) Eram bons tempos. É verdade, vivia-se sob o risco da Mútua Aniquilação Nuclear Total, mas ao menos as coisas eram mais claras. Sabia-se quem eram os bons, quem eram os maus; é claro que isso variava conforme a pessoa, alguns vendo o lado mau no "capitalismo selvagem americano", outros vendo-o na "ameaça vermelha", mas de qualquer modo havia dois times bem definidos, bastava torcer por um deles.

A competição entre as duas potências também trouxe um que outro efeito benéfico, com grandes saltos tecnológicos. Teriam os americanos chegado à Lua sem que os russos tivessem lançado o Sputnik? É pouco provável. Note que a exploração espacial reduziu-se notavelmente após o fim da URSS. Mesmo a Internet, cria do exército americano, é filha da Guerra Fria. Competição entre potências, como entre marcas, é saudável.

Hoje vivemos em um mundo confuso. Quem é bom, quem é mau? Difícil saber. Mesmo os EUA, que na época da Guerra Fria eram exemplo e modelo para o mundo livre, e defendiam as sociedades tradicionais do assalto dos comunas, apoiando os reaccionários, hoje parecem se inclinar por acções militares confusas, de resultado duvidoso, e sob a bandeira ainda mais duvidosa de um progressismo global. A Guerra do Iraque, no fim das contas, serviu para quê? O Afeganistão tem jeito? Na Líbia era realmente necessária uma operação militar? O bombardeio de Belgrado não foi um crime? Kosovo virou um estado criminoso no centro da Europa, realmente era necessário apoiar sua independência? E apoiar os comunistas em Honduras, será que realmente valia a pena, senhor Obama?

Eu não sei, eu realmente não sei mais.


Os EUA parecem empenhados em democratizar o mundo islâmico, mesmo que isso apenas leve ao poder fundamentalistas islâmicos que odeiam os EUA. Ao mesmo tempo, importam milhões de miseráveis para as suas próprias terras, no intuito de obter trabalhadores braçais baratos e consumidores vorazes. "Invade the world, invite the world", sugeriu alguém como slogan desse novo método americano.


Dizem que os EUA venceram a Guerra Fria. Mas e se fosse o contrário? E se o plano de desmoralização explicado aqui por
Yuri Bezmenov tivesse tido um sucesso tão fenomenal, se fosse simplesmente que a vitória dos comunistas foi tão total, tão acachapante, que eles já nem precisavam mais usar o fantoche do malvado Império Vermelho? "Deixem eles pensarem que venceram", pode estar rindo maquiavelicamente hoje algum ex-agente da KGB.


Por outro lado, se a vitória poderia ter sido ilusória, a derrota foi certamente real. Hoje grande parte das ex-repúblicas soviéticas definham. Ué! Mas não deviam ter-se renovado e crescido com a liberdade, com o fim do jugo comunista? Ao contrário, salvo algumas excepções como a República Tcheca, a Polônia ou a Hungria, parecem enfrentar corrupção, pobreza, crise económica, crise demográfica. São líderes hoje apenas em aborto, alcoolismo, drogas e prostituição. Mesmo a Rússia, que saiu melhor da jogada e parece ter um líder nacionalista em Putin, não tem um aspecto assim tão saudável. O que estaria acontecendo?


Mencius Moldbug é um blogueiro que acredita que os EUA eram e são tão comunistas quanto a União Soviética. Que EUA e URSS, ao contrário do que pareceria, eram aliados. Dividiram o mundo entre si, do que podiam reclamar? Ele gosta de citar este trecho do discurso do presidente Woodrow Wilson, realizado em 1917, celebrando a Revolução Russa

Já minha impressão é que a luta entre capitalismo e comunismo era bem real, uma luta entre duas visões de mundo diversas, uma colectivista e totalitária, a outra individualista e libertária. Hoje talvez tenhamos passado a um outro extremo. Os EUA, sem mais rivais à altura, ao menos no campo ideológico, e com a China ainda longe de tornar-se potência de igual força, exacerbou em demasia as tendências individualistas e libertárias, e seu governo virou um arauto do progressismo multicultural multirracial gayzista global. Demasiado focado no indivíduo e na liberdade individual, não vê que os grupos humanos e a colectividade também importam, e que nem toda liberdade é sadia.


Fui um pouco injusto com os EUA no post anterior; a grande nação certamente ainda tem muitas coisas de que se orgulhar que podem servir de exemplo para outros países, e ainda pode ser um lugar bastante bom para se viver, não obstante a crise aumente e em muitos lugares a vida piore um pouco todo dia.


Sim, mas…. Ah! Que saudades da Guerra Fria, da cachorra Laika, do Yuri Gagarin, do Gorbachov com sua mancha na cabeça e do Nikita Kruschev batendo com o sapato na mesa, do Ronald Reagan falando em "Evil Empire", dos tanques em Praga, dos vilões russos com acento carregado nos filmes de espionagem, de quando os comunas estavam na Praça Vermelha e não na Casa Branca…! Bons tempos, ah! Bons tempos!



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