quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

AUGUSTO NUNES - BRILHANTE...

Quando Lula agarra um microfone, os plurais saem em desabalada carreira, a gramática se refugia na embaixada portuguesa, a regência verbal se esconde no sótão de um casarão abandonado, o raciocínio lógico providencia um copo de estricnina (sem gelo) e os dicionários se apavoram com a iminência de outra selvagem sessão de tortura. Já no primeiro parágrafo, os brasileiros que não tratam o idioma a socos e pontapés ficam pálidos de espanto ou vermelhos de vergonha. Menos os devotos da seita lulopetista.



Quando Lula fala, o mundo se ilumina”, jura há quase 10 anos Marilena Chauí, professora da USP que também jura ser filósofa. A descoberta resumida numa frase explica o lugar reservado à companheira no “Encontro com Intelectuais sul-americanos”, promovido nesta segunda-feira pelo Instituto Lula: a foto mostra Marilena no palco, sentada à direita do Mestre. Com o rosto apoiado numa das mãos, ela espera o momento em que a luminosidade provocada pelo orador obrigará a plateia a proteger os olhos com óculos escuros.
Os presentes, como informa a inscrição no painel, são Intelectuais, com I maiúsculo. E participam não de um “encontro de”, mas de um “Encontro com”. Com Lula, naturalmente.  



O ex-presidente avisou no começo da discurseira que estava ali para ouvir. Só parou de falar quando a garganta implorou por descanso. Gastou alguns minutos louvando a integração dos Intelectuais da América do Sul. O tempo restante foi reservado ao que efetivamente interessa a um palanqueiro permanentemente em campanha há quase 40 anos.
Primeiro, Lula comunicou que está finalmente aprendendo a ser ex-presidente. Depois, ensinou que “é necessário tomar cuidado para fazer política sem parecer que quer continuar no cargo de mandatário”. Em seguida, avisou que continuará a fazer exatamente o contrário. “Lula vai cuidar pessoalmente das articulações com a base de Dilma para tentar garantir apoio à reeleição da presidente”, contou o companheiro Paulo Vanucchi aos jornalistas proibidos de testemunhar a aula de incoerência.




 Segundo o diretor do Instituto Lula, o chefe “vai gastar toda a energia para a manutenção da aliança entre PT, PMDB e PSB”. Ou seja: para assegurar a permanência de Dilma Rousseff no poder, Lula resolveu reduzir-lhe os poderes e nomear-se co-presidente.
O primeiro encontro entre a presidente eleita e o presidente que nunca desencarnou do Planalto deveria ocorrer em Brasília. Dilma lembrou que estará em São Paulo nesta sexta-feira, para as comemorações do aniversário da cidade, e sugeriu que conversassem no Instituto Lula. A aparente demonstração de subserviência camufla uma esperteza geopolítica. Assombrado pelo caso Rose e pelo pau de macarrão de Marisa Letícia, tudo o que Lula quer é ficar longe de casa. A presidente vai mantê-lo por aqui no feriadão que começa no dia 25.
Pena que a afilhada não se anime a bater de frente com o padrinho. Se lhe estendesse o tratamento que dispensa aos ministros, Dilma convidaria Lula para encontrá-la no escritório da Presidência da República em São Paulo. Assim que o visitante entrasse na sala, perguntaria se notou alguma mudança na paisagem, Ou se acha que está faltando alguém.

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