sábado, 13 de dezembro de 2014

PARTE 2- Nos tempos da comissão da " verdade", uma contribuição

 
 
Quando o Dops foi extinto pelo decreto 20.728 de 04.03.1983, do então governador José Maria Marin, as atribuições federais já haviam retornado à PF, haja vista que dias antes a União, através do Ministério da Justiça, denunciou o convênio que existia com o estado.

É importante registrar que, já naquela época, a PF tinha as atribuições de polícia política e, inclusive, uma delegacia especializada em Ordem Política e Social, que também se chamava Dops e que existiu até poucos anos atrás, de cujo funcionamento nunca ninguém reclamou. Reafirmo que essa

delegacia funcionava em plena democracia nos governos eleitos pelo voto popular. Era uma em cada Superintendência Regional da PF, e todas ligadas a uma Divisão em Brasília.

Meu pai e a equipe que ele montou transformaram a PF em uma instituição profissional, tão boa e eficiente quanto era o Deops na questão da segurança pública. Antes da PF era o Deops quem prendia nazistas e mafiosos internacionais no Brasil, além de esclarecer todos os grandes sequestros.

A PF nem rádio tinha para se comunicar: foi Romeu Tuma quem implantou tudo isso e a transformou num ícone. Ele soube instrumentalizá-la como superpolícia judiciária da União – a mesma PF que Lula usou pondo em ação um método de trabalho a seu serviço, numa prática de funcionamento movida a interesses pessoais e do seu partido, numa prática que certamente aprendeu com os chefes de regimes totalitários, alguns dos quais ele muito aprecia. Cabe aqui mais um esclarecimento para os navegantes de primeira viagem. Tanto Dops – Departamento de Ordem Política e Social, quanto Deops – Departamento Estadual de Ordem Política e Social estão corretos, é uma questão somente cronológica de nomenclatura face à mudança que ocorreu à época.

Por questão de justiça, devo fazer uma breve menção ao recém-falecido ministro Saulo Ramos, figura ímpar, apoiador decisivo da nossa ideia e pleito de retorno do Brasil à Interpol, dentre outras importantes medidas; ao ministro Bernardo Cabral, pelos avanços técnico-jurídicos no governo Collor; e a Delfim Netto, que, à frente do Ministério da Fazenda, possibilitou ao Tumão conquistar para a PF o reconhecimento salarial. Esse status financeiro permitiu-lhe, à época, dar um salto efetivo na valorização do pessoal e adquirir independência financeira para se transformar numa polícia de Estado.

Na gestão Tuma, a PF vira uma grife internacional. Lula a transformou numa etiqueta do PT, numa vestimenta dele mesmo. Aliás, algo incomum ocorreu com a atual PF: estranhamente, passou a ignorar suas raízes ao mudar a data de sua fundação, seu hino, e sua verdadeira história. No ritmo e na forma em que tem atuado, não me surpreenderia se viesse a adotar o Graham Bell como padroeiro.

Afinal, o ex-líder do Planalto fez dela uma central de grampos a serviço de interesses políticos e pessoais, permitindo a frequente montagem de inquéritos com esse viés.

Uma Polícia que tem o “Guardião” como instrumento de investigação mais importante do que seu próprio contingente humano, seus agentes... Uma hora a cria engole o criador. Não foram poucas as vezes em que alertei o núcleo central do poder: “Quando a flauta desafinar, a cobra vai picar o faquir”. Não deu outra! Se o Rosegate for abafado, deixaremos de conhecer as entranhas de um escândalo inédito na história do país, envolvendo sexo, traição, dinheiro, desvios de comportamento, desmandos e abusos dignos de uma produção hollywoodiana com potencialidade para concorrer ao Oscar.

Aqui só vou enveredar por bastidores quando eles estiverem em relação direta com a questão central que pretendo esmiuçar: como funciona a estrutura de poder do PT, e o motivo de terem me tirado da função, por meio de ataque cerrado à minha reputação, o que foi feito de forma sórdida.

Tudo apenas porque não concordei com o modus operandi petista e mandei apurar o que de irregular e ilegal encontrei. Só me valerei de bastidores como exemplos iluminativos, aportes didáticos a desmascarar circunstâncias brotadas de necessidades ideológicas de poder.

Oportuno consignar de plano, também, o compromisso moral, intelectual e funcional que todo homem público deve ter com a história de seu país e de seu povo, especialmente da sociedade responsável por suprir seus proventos, legando a ela e às futuras gerações, quer de estudantes, professores, pesquisadores, ou simplesmente de cidadãos ou leitores curiosos, o direito à informação e ao conhecimento dos alicerces que balizam a construção de sua nação.

Bastidores virão, também, sempre como exemplificação das demandas de fritura que a estrutura petista excogitou. Voltome à engenharia reversa: trago informações de coxia sempre que tenham a função de magnificar a ideologia petista materializada sob a forma de dossiês contra os inimigos de ocasião – ou de companheiros que se queira dispor como escravos, pelo atalho do grampo. Esse tipo de rebotalho araponga tornou-se a ideologia secreta do PT sob o olhar complacente do“Barba”.

Mas as raízes de tudo isso remontam aos anos 70 e 80, quando Lula passa a ter meu pai como alter ego. Quero que entendam bem isso: meu pai, para ações de segurança pública, usava os relatórios e caguetagens que Lula, o “Barba”, lhe fazia e prestava. Colaboravam dentro de um conceito amplo de segurança pública. Explico: se houvesse greve de ônibus, de bancários, ou metalúrgicos, isso mexia com a segurança do cidadão. Meu pai operava no sentido do bem público.

Lula aprendeu a vetorizar isso para o mal.

Meu pai usava por motivos de segurança pública os relatórios e histórias que Lula fazia e lhe contava. Para ele segurança pública não era esse cansativo discurso feito por burocratas e teóricos plantonistas. São todos, noto, metidos a entendidos, num construto em que, aliás, emprega-se muito gaiato, em meio a crises específicas na área. Só conhecem a velha política do cacete e bala – travestida, hoje em dia, na compra de mais viaturas, coletes e armas, sempre esquecendo a capacitação, treinamento e valorização de quem vai dispor do aparato. Quando muito, burocratas desprovidos da meritocracia que conhecem até a página 2 do manual, e mesmo assim porque decoraram....

Digo: se houver uma greve de ônibus, isso mexe com a segurança pública do cidadão diretamente. Porque este já não dorme direito, preocupado com o horário, com o transporte com o qual se deslocará. Frita-se a si mesmo em indagações muito incômodas: se vai passar por lugares seguros ou não, se o horário novo em que terá de sair é arriscado, se vai se atrasar e colocar o emprego em risco, se na volta chegará tarde, tendo de trafegar a pé por algum local mal iluminado...

Enfim, milhares de sensações de insegurança que geram um estresse capaz de alimentar uma série de conflitos naqueles dias de manifestações ou de paralisações. Meu pai operava nessa área de segurança, extrapolando em muito a limitada visão de alguns que pensam que ela se resume a polícia, violência e criminalidade. O “Barba”, depois presidente da República, usou o que aprendeu como aplicado aluno de meu pai para jogar duro contra adversários do seu governo e do seu partido, e até mesmo para dirimir arengas empresariais.

Uma das formas de contrainteligência é a arte de plantar informações falsas e produzir fatos inverídicos, misturados com pontinhas de verdade. A técnica consiste em colocar uma verdade muito verdadeira polvilhada com muitas mentiras: a força da verdade conduz o receptador da informação a acreditar nas mentiras. E a PF de Lula, por obra dele, tem sido insuperável nesse quesito. Você cria defesa quando não existe ataque, inventa ataques falsos e indefensáveis: é o que o PT de Lula faz todos os dias. Lula é mestre nisso, cria e inventa informações contra um próprio aliado. E, atemorizado, o cara vai correndo buscar o colo dele, pedindo “arrego” e proteção. Com isso, esse “aliado” já entra na lista dos contemplados pelo governo, em caso de solicitar algo mais, além de se circunscrever, por inércia da coreografia de poder, numa outra lista, que é a dos devedores eternos ao seu “salvador” Lula.

Quem está no governo, novinho na estrutura do poder, não fica sabendo disso: afinal, essa inapreciável técnica de Lula é restrita a um pequeno grupo, a um núcleo duro, ao comando central, que será exposto mais à frente em todos os seus detalhes. Nesse contexto, Lula e o PT são mestres em usar a imprensa e o dito jornalismo investigativo como peças de contrainteligência e de condenação avant la lettre: a imprensa acaba sendo levada a fazer o papel de um tribunal de condenação que precede toda a segurança jurídica.

Em um processo como o do Mensalão, muitos falaram em segurança jurídica: “Se o Supremo muda o entendimento, está mexendo com segurança jurídica”. Falácia. Ora, segurança jurídica tem um amplo conceito. Garantir o cumprimento da lei é a própria essência do conceito de segurança jurídica. Você terá oportunidade de constatar o que de fato é insegurança jurídica em capítulos mais à frente.

O poder da informação é você construir outra informação, a correta e ágil difusão e também a contrainformação. Só que ninguém usou como o governo Lula usa, como a sua polícia usa, a contrainformação e a contrainteligência. Não é informação e inteligência, é a contrainformação e a contrainteligência. Esse que é o mais perigoso substrato do poder. É a destruição da inteligência oposta, adversária, inimiga. Usado contra a sociedade civil ou simples membros dela, é uma covardia.

Era muito comum no passado o jornalista fazer uso da polícia para esquentar uma matéria.

Você chegava à autoridade, dava a dica de um crime, a autoridade investigava, prendia e devolvia a exclusividade da publicação ao jornalista que havia dado a dica. Isso é comum e, antes de mais nada, legítimo, porque se tratava de uma notícia-crime. Hoje em dia acontece justamente o contrário: a polícia usa um jornalista para esquentar informações falsas que, por serem noticiadas sem checagem, proporcionam a instauração de um inquérito. Depois também a autoridade usa de outro estratagema: planta informações falsas com um jornalista, informações que não estão no inquérito – que, na verdade, muitas vezes nem existe. Não é um processo, apesar de viral, rápido: é lento, opressivo, mas plural.

O jornalista publica o que recebe, e tal notícia acaba sendo anexada a um inquérito como verdadeira. Ou vira a peça inicial do inquérito. Tem mais: quando a reportagem de um jornalista é agregada ao inquérito com informações que você mesmo plantou, emprega-se outro truque: ao anexar

o texto da reportagem nesse inquérito, você o “vitamina” com altas doses de mentiras. Ninguém vai checar se a reportagem que gerou o inquérito continha ou não essas informações. O truque é muito simples. Coloque pitadas de mentiras ainda mais mentirosas na reprodução, no corpo do inquérito do que aquilo que foi publicado pelo jornal. Não sei como esse tipo de truque ainda não se tornou brutalmente óbvio aos por ele perseguidos.

Lula e seu aparato fizeram de certo jornalismo investigativo uma lavanderia de altas octanagens de informação. Sob o PT, jornalista fez-se também lavador de informação. Você entrega,

o camarada publica. Veja os tribunais em que se transformaram os sites de busca, como o Google, por exemplo. Eles te condenam já na pesquisa sobre o teu nome: afinal de contas, na lei da selva, ninguém faz manchete dando defesa ou deixando espaço para o outro lado, não é? Essa é a herança maldita do “Barba”!

Vi isso no governo, ad nauseam. Nunca me calei, sempre mandei apurar. Até que chegou a minha vez. Gilberto Carvalho, braço direito de Lula, e ainda de Dilma, tentou negociar o meu silêncio sobre os trambiques e sinecuras que testemunhei, sobre tudo o que sei, como ninguém, a respeito da morte de Celso Daniel, em troca de uma cerveja, você verá. Não aceitei. Veio o refluxo.

Fui levianamente acusado e covardemente frito.

A história que se segue é a história da tentativa de assassinato da minha reputação. Que, a bem da verdade, como uma estratégia das organizações criminosas, se consumou em boa parte e medida.

Além de tirar a vida do meu querido e amado pai, tais estrategos do lulismo atingiram em cheio as outras duas coisas que mais prezo, e que valem muito mais que minha vida: a minha família e a minha honra.

O título primevo do livro seria “Assassinato de reputação”. Mas, a bem da história, ele acabou passando para o plural. Afinal aqui vamos esclarecer como, sob Lula, reputações várias foram assassinadas, por encomenda, e sempre com uma expertise refinadíssima.

Escrevo também como prestação de contas de um homem público inocente, indevidamente inserido, julgado e condenado no Supremo Tribunal do Google, onde só há espaço para a acusação.

E, sobretudo, para legar à história o que não me foi permitido em nenhum outro local, instância ou poder, apesar de minhas inúmeras tentativas, nos últimos três anos, no sentido de fazer a sociedade saber as verdadeiras razões pelas quais “caí”. Espero que o acontecido comigo sirva de alerta vermelho para evitar episódios semelhantes e, pior, a definitiva instalação do Estado Policial disfarçado de Democrático e Social. Daí o título do livro.

E daí, também, eu já ter dito que na minha vida jamais serão viradas as páginas em branco; portanto, as páginas que se seguem só têm compromisso com a verdade – e, ao contrário do que afirmava o personagem famoso de Machado de Assis, não foram escritas com a pena da galhofa, a tinta da melancolia e rabugens de pessimismo. Sou delegado de polícia concursado, tendo sido promovido da 5a classe à classe especial, ápice da carreira, sempre por merecimento. E, portanto, desposado da verdade, legado máximo que me deixou o finado Tumão, que também me ensinou que honestidade não é virtude mas obrigação. Tenho compromisso com a história do país, sobretudo

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